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Homenagens

CARLOS EDUARDO GARISTO DE NICOLA
(
filho)

NICOLA EM TRÊS CENAS

Durante umas férias de julho, quando eu tinha aproximadamente 10 anos, meu pai vinha todas as tardes em casa jogar futebol comigo e com meus amigos. Eu gostava especialmente quando éramos três crianças e ele, porque podíamos nos dividir e revezar em duas duplas, uma contra a outra, e jogar bola à tarde inteira. Durava muito tempo – creio que duas ou três horas pelo menos. Às vezes éramos apenas duas crianças e ele, e, neste caso, costumávamos nos dividir as duas crianças contra ele, em uma disputa acirrada. Nós chutávamos forte, para provocá-lo, e eu me divertia com meu pai saindo do sério, algo que não era muito comum, e chutando forte em contrapartida, em nossa direção. A bola estourava na parede, e fazia ressoar o som pelos prédios que rodeavam a pequena quadra improvisada. Meu pai jogava de camiseta e calça jeans, mas tinha um tênis “reserva” para jogar conosco, que substituía o que ele utilizava no dia a dia. Ficávamos encharcados de suor. Depois, eu partia com ele para comer alguma coisa fora de casa.

Quando minha avó paterna estava às vésperas da morte, fiz uma caminhada com meu pai. Era comum caminharmos, muito. Ele gostava, e eu aprendi a gostar também. Estávamos ao lado do Iate Clube de Santos, que era a antiga casa da Dona Veridiana Prado, um dos imóveis mais antigos daquela região de Santa Cecília, Consolação e Higienópolis, em São Paulo. Ele estava contando sobre como estava sua mãe – provavelmente sabia qual seria o desfecho. De repente, parou, desceu ao chão, ajoelhado, e me abraçou, chorando. Eu não estava acostumado a ver meu pai se emocionar dessa maneira, por isso o ocorrido me surge, límpido, mais de 20 anos depois. Entre seu choro doído, ele me disse algo como:

            - Sabe, Carlos, é muito difícil ver alguém que amamos nessa situação tão difícil.

Em uma ocasião, quando eu era adulto, e passara meses fora em viagem, meu pai fora me visitar. Creio que essa foi a última vez em que me foi possível revê-lo, ou seja, viver novas experiências com alguém que se conhece muito bem. Estávamos em um bar, tarde da noite, cercado de estudantes animados, e a brincadeira era provar drinques exóticos, normalmente com muito álcool e pouco sabor. Eu provei um deles e convidei meu pai a fazê-lo, que o fez, com uma careta, e depois reclamou de dor de cabeça, e foi dormir. Em outro momento, conhecemos um senhor, idoso, que gostou de nossa presença, e combinou de fazer passeios conosco. Ele possuía quase tanto conhecimento de História quanto meu pai. Percorremos alguns lugares juntos. A uma dada altura, chegamos na estação de metrô que nos levaria para casa. Esse senhor mencionou que não gostava de despedidas, e simplesmente desapareceu antes que pudéssemos saudá-lo. Lembro de passeios com meu pai em que encontrávamos personagens do tipo, não sei se porque havia uma tendência dele, e, depois, de mim, de descobrir “personagens à procura de autores”, ou porque meu pai me propiciava essa visão mais detalhada sobre as pessoas e a vida e, desse modo, valorizávamos o que parece trivial.

SILVIA FORTES SIQUEIRA
(esposa
)

ENCORAJANDO A LEITURA

Para encorajar seus alunos a ler, semanalmente um professor recortava, de jornais e /ou revistas, crônicas e artigos para distribuir aos alunos. Estes deveriam ler e escrever sínteses e comentários sobre os textos. Essas atividades extracurriculares fizeram parte de sua metodologia de sala de aula. Corrigia cada trabalho recebido, como um bom professor de língua portuguesa, comentando cada erro cometido pelos alunos. Essas atividades valiam pontos para a nota semestral. Ele ensinava o conteúdo da disciplina a ele atribuída, leitura e interpretação de textos, além de contribuir para a melhoria da expressão escrita dos alunos.

Nilton em excursão à capital, com alunos de Itanhaém, 2010.

Tinha uma visão transdisciplinar das disciplinas, tendo dado várias palestras sobre esse tópico, pois era uma abordagem que lhe permitia levar os alunos a compreender textos, interpretá-los e se expressarem nos comentários escritos. Tudo isso os ajudava a “refletir”. Foi professor, bem avaliado pelos seus alunos, da Faculdade Anhembi Morumbi (20 anos), Santa Marcelina (10 anos), Litoral Sul (4 anos) e do curso de Direito de Peruíbe (5 anos). Quando terminava sua aula, muitas vezes era aplaudido de pé. Aliás, em seu curso de Direito na Faculdade do Largo São Francisco, os alunos faziam o mesmo, em reconhecimento às excelentes aulas de alguns professores.

 

Em suas viagens internacionais, teve a oportunidade de levar seu respeito e admiração a grandes escritores, tais como: Luís de Camões, uma das maiores figuras da literatura Lusófona, autor de “Os Lusíadas”, visitando seu túmulo em Lisboa (2013). Pablo Neruda, poeta-diplomata chileno, ganhador do Prêmio Nobel da Literatura em 1971, visitando em Valparaíso, Chile (2014), a “Casa Museu La Sebastiana”. Ernest Hemingway, escritor norte- americano, ganhador do prêmio Nobel de Literatura, em 1954, visitando o “Museu Finca de Vigia”, em Havana, Cuba (2015). Já nos Estados Unidos (2015), quando em Key West, visitou o “Museu de Hemingway” e reparou bem em sua máquina de datilografar que estava na mesa do escritor. Em Moscou (2017), visitou o “Museu Leon Tolstói”, casa onde morou esse grande escritor russo. Sua última visita foi em Praga (2019), ao “Museu Franz Kafka”, considerado um dos escritores mais influentes do século XX.

Esse grande professor foi o querido acadêmico Nilton Cesar Nicola (1955-2024).

GUSTAVO DA MOTA (autor)

O NILTON E O NICOLA

Fossem dias de luz,

Fossem dias de sombras;

Nilton Nicola não se definia

Em preto e branco.

Era amálgama de cores literárias,

do saber — e no saber, temer

com polido respeito,

sobre o ouro e a prata

das pessoas e dos tempos,

de raposas e de ratos.

Deixou-nos cedo!

Aqui ficamos, órfãos literários,

Entre díscolos e sicofantas

Teimando em tentar dançar a dança

e driblar os dribles.

Sortudos somos, porém;

De Nicola ainda cantarão

tanto os inúmeros gêneses,

quanto os infinitos apocalipses,

a guiar, imortal, família e literatura.

17 de Outubro de 2024

RODRIGO LADEIRA (poeta e autor)

IN MEMORIAM NILTON NICOLA

Empresta, a morte, um vazio 
como a palavra solidão 
que flutua à deriva do pensamento,
no barco chamado saudade 
de um rastro deixado ao passado.
Adia de súbito o coração 
com o fazer dos sonhos futuros.
Cindi, a volição,
entre o desejo e a inércia,
a mão que despenteia o choro
será a mesma de cortar o pão.
O mundo que não era o mundo
abre as portas do olhar,
turvas são as águas azuis
nas janelas do próprio mar.
Empresta, a morte, um instante de silêncio 
à bela sinfonia da vida,
como se Mozart habitasse
o deserto da partida, 
entre passos e tropeços
sobrevive o coração 
às intempéries do destino.
E revira a massa
e refaz o chão.

LYDIA GONÇALVES
(poetisa e autora)

LIBERDADE

Rompe-se a corrente
Onde eu, de tristeza, cantava.
Como um pássaro preso
Sem poder usar as próprias asas.
Abre-se a cortina do entendimento,
O sol brilha no azul do céu,
Meus olhos revelam minha liberdade,
Um interminável descobrimento
De novo mundo de inédita beleza.
Agora sei a verdade de mim mesma e sou feliz
Pássaro preso não sabe a distância do infinito,
Não tem liberdade de escolher.
Quando se tem esperança, a vida se renova a cada instante.
De que vale castelo de ouro, pose de rainha,
Se a solidão é amarga e aperta a garganta
Que impede de falar, cantar, sorrir?
Ah... Como é bom ter esperança e poder sonhar:
Sair correndo e gritar com fôlego de liberdade,
Voar, voar e não parar de voar.
Ao som do vento até as estrelas mudam de lugar
A chuva cai, molhando meu corpo, suavizando minhas emoções
Naveguei nas águas dos teus olhos e aprendi
Nunca é tarde para voar nas asas do tempo,
Colher a flor no topo da montanha,
Desfolhar o malmequer
Chupar o fruto da felicidade doce como o mel.
Anjo abençoado, mestre querido,
Sem você, como eu poderia voar?

Ah... Como a vida é curta para tantos caminhos

O coração é um só

O além é infinito

O amor é eterno

Você é incomparável!

ROSA MARIA DE MORAES
(acadêmica)

APOTEOSE A UM IMORTAL

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SILVIA FORTES SIQUEIRA
(esposa
)

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SALVE 4 DE NOVEMBRO DE 1955

Neste dia, nasceu em São Paulo um lindo bebê loirinho de olhos azuis. Foi batizado com o nome de Nilton Cesar Nicola. Cresceu num lar feliz, junto ao pai Pedro, mamãe Antonia, irmã Nilse Cristina. Estudou em boas escolas, foi um ótimo aluno. De aluno tornou-se um respeitável professor universitário e escritor, espalhando livros, conhecimento e amor à leitura aos milhares de alunos, leitores e pessoas que por sua vida passaram. Foi numa Faculdade que conheceu sua amorosa esposa, companheira, confidente, admiradora, incentivadora, amante e amiga, Sílvia Maria, também professora universitária. Ambos foram empossados como membros da Academia Itanhaense de Letras, participando ativamente das atividades culturais da cidade.

 

Nilton foi tudo de bom na vida da Sílvia Maria. Um verdadeiro presente de Deus. Viveram juntos por quase 20 anos, um completando o outro com muito amor, respeito, admiração, compreensão, e paixão. Nilton completaria 69 anos hoje. Infelizmente uma doença cruel o levou precocemente para a eternidade, em 19 de março de 2024. Homem íntegro, bom e honesto, partiu serenamente, tendo Sílvia Maria e Nilse Cristina segurando cada uma de suas mãos, carinhosamente. Sua alma subiu ao encontro da querida mãezinha Antonia, para outra dimensão. Deixou muitas saudades para seu filho Carlos Eduardo, neto Sereno, esposa, irmã e demais familiares e amigos.

 

Que Nilton Cesar Nicola repouse em paz!

Sílvia Fortes Siqueira - 04 de Novembro de 2024

SILVIA FORTES SIQUEIRA
(esposa
)

"ESPERANÇA",

UMA PALAVRA EM UM DICIONÁRIO

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Para homenagear a memória do meu amado marido Nilton Nicola, escrevi esta crônica intitulada “Esperança, uma palavra em um dicionário”. Inspirei-me nas paixões do Nilton, conforme minha leitura dos seus interesses: paixão pelo significado das palavras, pelo dicionário de Laudelino Freire (cinco volumes), pela leitura,  pelo incentivo ao seus alunos pela leitura, pela arte de escrever, pela  comunicação escrita com cuidadosa escolha das palavras, pelo amor à correção gramatical. Para expressar meus sentimentos pelo Nilton, fiz uso de cada um dos significados da palavra “esperança”, após ter o cuidado de esclarecê-los, um por um.  Escolhi a palavra “esperança” porque só me resta, agora que ele foi para outra dimensão, a esperança de encontrá-lo novamente por lá, onde quer que esteja, repousando em paz.

Em consulta ao Dicionário de Laudelino Freire, encontrei seis significados para a palavra “esperança”. Esta é um substantivo feminino, derivado do verbo “esperar”.

1º) Espera de um bem cuja posse se reputa provável. Algum bem que se gostaria de obter. Marieta tem esperança de conseguir morar em casa própria. Eu tenho esperança de conseguir uma boa cuidadora para quando não puder cuidar sozinha de mim, ou se estiver doente. Uma pessoa boa que faça por mim, tudo que fiz para cuidar do Nilton, com muito  carinho, amor e dedicação.

2º) Tendência do espírito para considerar como provável a realização de um bem que se deseja. Nesse sentido, ter-se esperança está ligado ao sentimento de fé. Por exemplo, a família de Marieta tinha esperança de que a grave doença do vovô Mário fosse curada pelo novo método do Dr. Maurício Marcondes Machado. Eu tinha esperança de que a terrível doença do meu querido Nilton se estabilizasse e de que nós continuássemos vivendo nossa vidinha, repleta de bons momentos, felizes para sempre.

3º) A coisa que se deseja, que se espera. Nesse caso, a palavra “esperança” vem associada ao desejo que se tem de que alguma coisa aconteça. Marieta, com esperança em reatar a confiança do colega Marcelo, escreveu-lhe um bilhete pedindo desculpas pelas palavras rudes com que lhe respondeu a uma simples pergunta sua.  Eu alimentava a esperança de que os suplementos alimentares trazidos dos Estados Unidos pela minha filha, Sílvia Regina, contribuíssem para o retardamento da doença Esclerose Lateral Amiotrófica, ELA, que judiou do meu grande Nilton.

4º) A segunda das três virtudes teologais, pela qual o cristão espera de Deus, com firme confiança, a graça durante a vida e o céu depois da morte. Maria enfrentou o sofrimento da crucificação de seu filho Jesus Cristo, após ter sido julgado por Pôncio Pilatos, com a firme esperança de que o Criador, nosso Deus, o receberia de braços abertos no Céu. Eu tenho esperança de que Deus, após a minha morte, me conduzirá para os braços do Nilton, que me receberá com o carinho de sempre.

5º)  Expectativa.  Aqui a palavra tem o sentido daquilo que se espera, de torcer para que algo aconteça. Após o desaparecimento de três estudantes paulistanos, na última sexta-feira, na Serra do Mar, a polícia florestal afirmou ter esperança de encontrá-los com vida, brevemente.  Eu tenho esperança de continuar a vida de viúva com saúde, paz e gratidão ao Criador, por ter me proporcionado tantos anos de felicidade ao lado do Nilton.

6º) Inseto ortóptero da família dos locustedas. Simplesmente um inseto voador. Lendo o livro Aprendendo a viver, de Clarice Lispector, encontrei na página 145, uma crônica sobre “Esperança”. Esperança pousou em sua casa, seu filho gritou de susto e eles ficaram observando aquele inseto verde, fininho, quase transparente. Era outro tipo de esperança, um inseto! Eu não me lembro de ter visto nenhuma esperança pousando no Nilton ou em mim, nem em nossa casa, como na de Clarice Lispector!

Em consulta ao meu coração, em 24 de dezembro de 2024, termino dizendo que sinto muitíssimo não ter o Nilton para fazer aquela cuidadosa revisão de meus textos, em inglês ou em português. Que falta ele faz na minha vida. Contudo, tenho esperança de reencontrá-lo no Reino de Deus!

Criado com carinho em memória do Professor Nilton Nicola.

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